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O presente é sempre presente, materializa-se com um acordo tácito que fizemos para desafiar o tempo aparente. No passado estão os sonhos vividos e sonhados, incrivelmente os sonhos pertencem ao tempo aparente, mesmo que parcialmente vividos. No futuro está a incerteza do que poderá vir-a-ser, também aparente. A idéia de futuro é uma abstração angustiante, talvez mais angustiante que o passado, nele os sonhos pairam no limbo, entre o bem o mal não vivido.
Vivemos entre o passado e o futuro, como diz Hannah Arend. Para ela, o passado representou vivências como um quadro de Picasso, muitas Guernicas, muitos holocaustos, com pesadelos eivados de crueldade no universo totalitário. Mas Arend viveu no presente o tórrido amor clandestino, contraditoriamente com o filósofo do desvelo e do vir-a-ser. Uma mulher filósofa e um homem filósofo oculta a paixão latente. Heiddeger era famoso, inteligente, feio, poderoso, bem casado com outra. Arend era bonita, inteligente, libertária, sem marido. Mulher sem marido está à procura de amante casado. Mesmo para as mulheres libertárias, justifica-se que alguns homens estejam no mando e que necessitem ocultar o amor. Os homens públicos são socialmente venerados, são sérios, sisudos detrás dos óculos. As mulheres públicas, se forem bonitas bem pior, são as desfrutáveis como “laranja de amostra” mesmo que filósofas, mesmo que libertárias.
Arend e Heiddegger deixaram escritos para a posteridade que dormem nas prateleiras da academia bem como as suas explicações sobre o mundo, sobre a vida, sobre o passado e o futuro. Muitas explicações sobre o pensamento e reflexão sobre a realidade vivida. Pouca gente se interessa pelo seu romance. O tempo passou. Será que o tempo passa?
Outro compatriota de Arend e Heiddegger declarou que é preciso deixar o tempo entrar. Walter Benjamim sentiu o peso dos anos sangrentos do nazismo, pagou caro pela coerência, por sua ideologia e, por sua opção amorosa. Amou às claras e não suportou o alvissareiro progresso presente, deixou escrito em vermelho as terríveis sensações do quadro Angelos Novos de Klee. Não viveu de futuro, nem do passado, deixou o tempo entrar no presente e afirmou que:
“O tédio é um tecido cinzento e quente, forrado por dentro com seda das cores mais variadas e brilhantes. Nele nos enrolamos quando sonhamos.”
Esse é para todas as mulheres que lutam para sair da sombra e buscam o seu lugar ao sol.
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