Wednesday, December 29, 2010
Tuesday, December 28, 2010
Tuesday, December 14, 2010
O BEIJÓDROMO
Uma década e meia depois, a UnB inaugura o "beijódromo" imaginado por Darcy Ribeiro. Por Cynara Menezes
Uma década e meia depois, a UnB inaugura o “beijódromo” imaginado por Darcy Ribeiro
Nuvens claras cobriam o céu de Brasília na quarta-feira 8. Fazia calor, mas, graças às paredes laterais móveis, uma brisa fresca circulava pelo auditório. Do lado de fora, nos bancos ao redor do espelho-d’água que circunda o prédio, a temperatura estava parti-cularmente agradável por causa dos chafarizes instalados no fosso, cujos borrifos são aproveitados para refrescar o interior do Memorial Darcy Ribeiro. Enfim, tudo parecia conspirar a favor de uma tarde propícia para beijos à farta, mas não se viam muitos pombinhos arrulhando por ali.
O beijódromo sonhado pelo antropólogo e ex-senador Darcy Ribeiro em 1996, um ano antes de sua morte, foi finalmente inaugurado por Lula na segunda-feira 6. Acompanhado do colega uruguaio José Mujica, amigo de Darcy, e do ministro da Cultura, Juca Ferreira, o presidente enfrentou o protesto de um grupo de estudantes contra o reitor da universidade, para quem o memorial não era tão urgente quanto outras obras.
Apressada em uma semana para tornar possível a vinda de Mujica, que transmitiu o desejo de estar presente à cerimônia, a obra podia até não ser urgente, mas repara uma dívida antiga da UnB com Darcy, seu criador, ao lado do educador Anísio Teixeira. O antropólogo idealizara uma universidade-modelo e trouxera para a capital do País, em 1961, mais de 200 educadores, cujo talento pretendia utilizar para, em -suas palavras, “plantar a sabedoria humana”. Veio o golpe militar e a universidade teve seu destino desvirtuado, mas o acadêmico, que partiu para o exílio, nunca deixaria de considerar a UnB como sua “filha”.
No memorial, há uma exposição permanente sobre a obra e a vida de Darcy, com objetos indígenas e de uso pessoal, folhetos de sua carreira política, fotos e documentos, como uma carta que escreveu ao economista Celso Furtado em 1969. Exilado na Venezuela, Darcy se encontrava em apuros com a Universidade de Caracas, também invadida por militares, e enviava a Furtado seu currículo, em busca de emprego. Ao lado da exposição, no primeiro andar, a biblioteca tem cerca de 30 mil volumes, do acervo dele e de sua primeira mulher, a também antropóloga Berta G. Ribeiro.
Mas o xodó do complexo é mesmo o beijódromo propriamente dito: o auditório do memorial, onde acontecerão shows- e palestras a partir de fevereiro. Na ideia que Darcy, já enfraquecido pelo câncer, transmitiu ao arquiteto João Filgueiras, o Lelé, um dos talentos que ele trouxe para a universidade na época de sua criação, “trata-se de um amplo palco ao ar livre para serestas e leitura de teatro e poe-sia, defronte de uma arquibancada para 200 olharem a lua cheia e se acariciarem. Eu, lá de longe, estarei vendo, feliz”.
A única mudança no projeto feita por Lelé agora foi a colocação de uma cobertura no beijódromo, para proteção dos equipamentos. O arquiteto concebeu um espaço que “lembra um pouco um disco voador ou uma mistura da maloca dos xavantes com a dos kamayanás”, que Darcy tanto admirava. Como os demais projetos de Lelé, a exemplo dos hospitais da rede Sarah, o memorial possui muita luz natural e outras características que o fazem ecologicamente correto. Não há ar condicionado: um exaustor situado no topo da “maloca” puxa o ar quente para cima, ao mesmo tempo que o prédio é todo resfriado pelo aproveitamento da água borrifada pelos chafarizes.
No espelho-d’água, abastecido pela chuva, menos nos meses de seca, foram colocados 10 mil peixes “barrigudinhos”, comedores de larvas de mosquitos. “Usamos esses peixinhos no Hospital Sarah do Rio e deu supercerto contra o mosquito da dengue”, conta a filha do arquiteto e sua parceira na obra, Adriana Filgueiras. Todos os móveis do memorial, assim como o elevador panorâmico, foram desenhados por Lelé e fabricados ali mesmo. No centro do prédio, há um jardim com plantas de flores vermelhas, para combinar com as finalidades românticas imaginadas por Darcy. Ele costumava dizer que criou o Sambódromo, no Rio, sem saber sambar, mas que queria um “beijódromo” na sede da fundação porque, gabava-se, beijar era o seu forte. “Eu gosto é de beijar e namorar”, afirmava.
Segundo a diretora do memorial, Laura Murta, embora o beijódromo seja só o auditório, todos os espaços do lugar são beijáveis. “A ideia é que o prédio seja efetivamente e afetivamente utilizado.” Nenhum tipo de beijo, promete, será proibido. “O memorial tem de ser a síntese da universidade tal como foi imaginada por Darcy: ninguém podia ser premiado ou punido por suas ideias e atos”, confirmou o presidente da Fundação Darcy Ribeiro, Paulo Ribeiro, sobrinho do antropólogo.
Ou seja, está liberado o beijo entre meninos e meninas, e também vale homem com homem e mulher com mulher. Aliás,- só para confirmar, o ósculo de inauguração do beijódromo foi dado por Paulo em ninguém menos que o presidente Lula. “Na testa”, ele esclarece. Tanta modernidade agradou ao casal de “ficantes” Rodrigo Oliveira, 21 anos, estudante de Relações Internacionais, e Kaio Maia, 22, de Letras. “O lado simbólico do beijódromo é muito importante. Num momento em que os gays estão ouvindo tanto ‘aqui não é lugar para isso’, aparece um local feito justamente para isso”, opinou Rodrigo – que ficou tímido e evitou dar um beijo em Kaio.
O que traz à cabeça a pergunta: será que um lugar feito para beijar não inibe os beijoqueiros? Como se o beijo, em lugar de desfrute, se transformasse em obrigação? O estudante de doutorado em Direito Humberto Góes, 32 anos, desenvolve sua tese: “Acho que não. Ao contrário, o local é em tudo propício ao beijo e às manifestações amorosas. Observe que as cadeiras não têm braços. Sinal de que as pessoas, até por não terem onde se apoiar, vão preferir ficar abraçadinhas”. Cada beijo, beijinho e beijoca no local terá um patrono: Darcy Ribeiro
Uma década e meia depois, a UnB inaugura o “beijódromo” imaginado por Darcy Ribeiro
Nuvens claras cobriam o céu de Brasília na quarta-feira 8. Fazia calor, mas, graças às paredes laterais móveis, uma brisa fresca circulava pelo auditório. Do lado de fora, nos bancos ao redor do espelho-d’água que circunda o prédio, a temperatura estava parti-cularmente agradável por causa dos chafarizes instalados no fosso, cujos borrifos são aproveitados para refrescar o interior do Memorial Darcy Ribeiro. Enfim, tudo parecia conspirar a favor de uma tarde propícia para beijos à farta, mas não se viam muitos pombinhos arrulhando por ali.
O beijódromo sonhado pelo antropólogo e ex-senador Darcy Ribeiro em 1996, um ano antes de sua morte, foi finalmente inaugurado por Lula na segunda-feira 6. Acompanhado do colega uruguaio José Mujica, amigo de Darcy, e do ministro da Cultura, Juca Ferreira, o presidente enfrentou o protesto de um grupo de estudantes contra o reitor da universidade, para quem o memorial não era tão urgente quanto outras obras.
Apressada em uma semana para tornar possível a vinda de Mujica, que transmitiu o desejo de estar presente à cerimônia, a obra podia até não ser urgente, mas repara uma dívida antiga da UnB com Darcy, seu criador, ao lado do educador Anísio Teixeira. O antropólogo idealizara uma universidade-modelo e trouxera para a capital do País, em 1961, mais de 200 educadores, cujo talento pretendia utilizar para, em -suas palavras, “plantar a sabedoria humana”. Veio o golpe militar e a universidade teve seu destino desvirtuado, mas o acadêmico, que partiu para o exílio, nunca deixaria de considerar a UnB como sua “filha”.
No memorial, há uma exposição permanente sobre a obra e a vida de Darcy, com objetos indígenas e de uso pessoal, folhetos de sua carreira política, fotos e documentos, como uma carta que escreveu ao economista Celso Furtado em 1969. Exilado na Venezuela, Darcy se encontrava em apuros com a Universidade de Caracas, também invadida por militares, e enviava a Furtado seu currículo, em busca de emprego. Ao lado da exposição, no primeiro andar, a biblioteca tem cerca de 30 mil volumes, do acervo dele e de sua primeira mulher, a também antropóloga Berta G. Ribeiro.
Mas o xodó do complexo é mesmo o beijódromo propriamente dito: o auditório do memorial, onde acontecerão shows- e palestras a partir de fevereiro. Na ideia que Darcy, já enfraquecido pelo câncer, transmitiu ao arquiteto João Filgueiras, o Lelé, um dos talentos que ele trouxe para a universidade na época de sua criação, “trata-se de um amplo palco ao ar livre para serestas e leitura de teatro e poe-sia, defronte de uma arquibancada para 200 olharem a lua cheia e se acariciarem. Eu, lá de longe, estarei vendo, feliz”.
A única mudança no projeto feita por Lelé agora foi a colocação de uma cobertura no beijódromo, para proteção dos equipamentos. O arquiteto concebeu um espaço que “lembra um pouco um disco voador ou uma mistura da maloca dos xavantes com a dos kamayanás”, que Darcy tanto admirava. Como os demais projetos de Lelé, a exemplo dos hospitais da rede Sarah, o memorial possui muita luz natural e outras características que o fazem ecologicamente correto. Não há ar condicionado: um exaustor situado no topo da “maloca” puxa o ar quente para cima, ao mesmo tempo que o prédio é todo resfriado pelo aproveitamento da água borrifada pelos chafarizes.
No espelho-d’água, abastecido pela chuva, menos nos meses de seca, foram colocados 10 mil peixes “barrigudinhos”, comedores de larvas de mosquitos. “Usamos esses peixinhos no Hospital Sarah do Rio e deu supercerto contra o mosquito da dengue”, conta a filha do arquiteto e sua parceira na obra, Adriana Filgueiras. Todos os móveis do memorial, assim como o elevador panorâmico, foram desenhados por Lelé e fabricados ali mesmo. No centro do prédio, há um jardim com plantas de flores vermelhas, para combinar com as finalidades românticas imaginadas por Darcy. Ele costumava dizer que criou o Sambódromo, no Rio, sem saber sambar, mas que queria um “beijódromo” na sede da fundação porque, gabava-se, beijar era o seu forte. “Eu gosto é de beijar e namorar”, afirmava.
Segundo a diretora do memorial, Laura Murta, embora o beijódromo seja só o auditório, todos os espaços do lugar são beijáveis. “A ideia é que o prédio seja efetivamente e afetivamente utilizado.” Nenhum tipo de beijo, promete, será proibido. “O memorial tem de ser a síntese da universidade tal como foi imaginada por Darcy: ninguém podia ser premiado ou punido por suas ideias e atos”, confirmou o presidente da Fundação Darcy Ribeiro, Paulo Ribeiro, sobrinho do antropólogo.
Ou seja, está liberado o beijo entre meninos e meninas, e também vale homem com homem e mulher com mulher. Aliás,- só para confirmar, o ósculo de inauguração do beijódromo foi dado por Paulo em ninguém menos que o presidente Lula. “Na testa”, ele esclarece. Tanta modernidade agradou ao casal de “ficantes” Rodrigo Oliveira, 21 anos, estudante de Relações Internacionais, e Kaio Maia, 22, de Letras. “O lado simbólico do beijódromo é muito importante. Num momento em que os gays estão ouvindo tanto ‘aqui não é lugar para isso’, aparece um local feito justamente para isso”, opinou Rodrigo – que ficou tímido e evitou dar um beijo em Kaio.
O que traz à cabeça a pergunta: será que um lugar feito para beijar não inibe os beijoqueiros? Como se o beijo, em lugar de desfrute, se transformasse em obrigação? O estudante de doutorado em Direito Humberto Góes, 32 anos, desenvolve sua tese: “Acho que não. Ao contrário, o local é em tudo propício ao beijo e às manifestações amorosas. Observe que as cadeiras não têm braços. Sinal de que as pessoas, até por não terem onde se apoiar, vão preferir ficar abraçadinhas”. Cada beijo, beijinho e beijoca no local terá um patrono: Darcy Ribeiro
O PRAZER DEIXA MUITO A DESEJAR
CONTEÚDO LIVRE
ARNALDO JABOR - O prazer deixa muito a desejar
Amigos me perguntam: você fez "A Suprema Felicidade", mas, o que é o prazer para você? Penso, penso e respondo: "Sei lá...".
Mas, como insistem, vamos tentar.
O prazer pode nos dar culpa e a culpa pode dar prazer. Os masoquistas sabem disso: todo prazer será castigado. Por isso, muitos preferem o doce sentimento de culpa, porque, se somos castigados antes, podemos ruminar sem medo o nosso vazio.
O prazer deixa muito a desejar, o prazer nos deixa insatisfeitos porque acaba logo. O problema do prazer é que ele sempre demanda mais prazer, orgias mais perversas, drogas mais alucinantes. O prazer não quer ter fim. "Ah... e a felicidade?" - perguntam-me. (Se bobear, viro conselheiro sentimental...). Bem, a felicidade seria um prazer mais duradouro, comedido. Mas a felicidade está fora de moda em tempos tão velozes.
A felicidade é analógica e o prazer digital. A felicidade ficou chata, tem de ser administrada, dosada e é feita também de dores, sofrimentos e dúvidas. O prazer não; pega, mata e come. Todos fingem ter prazer - é mais comercial. As caras das revistas ostentam uma gargalhada eterna. Prazer é voraz; quer botar o mundo para dentro, sugar, comer o mundo como um pudim, pela boca, por todos os buracos. Prazer é "cool". Felicidade é careta.
Mas, vamos nos deter no capítulo do orgasmo, este retumbante final de sinfonias. O problema do orgasmo é a memória e a esperança. É bem fácil se lembrar de um grande gozo no passado (mesmo ilusório) ou imaginar um grande uivo no futuro que ainda não chegou. Já o orgasmo no presente é assaltado por muitos estorvos: uma sirene de polícia, o medo de falhar, a campainha do vizinho.
Há-os de vários tipos: o básico, o decepcionante e o apoteótico. De cinco estrelinhas a pontinho preto.
O apoteótico é raríssimo, é uma utopia que desqualifica os básicos tremores. Conheço um sujeito que na hora H pensou num gol de placa do Ronaldinho e quase subiu aos céus (apoteose). Um outro, que tinha ejaculação precoce, gozou ao apertar o botão do elevador da casa da mulher que tanto ambicionava. Fora isso, temos o básico, o arroz com feijão: "Pronto, meu bem, agora vamos jantar".
Mas, você só pensa em sexo, dirão vocês. É... fazer o que, se o sexo está tomando o lugar de todos os outros desejos? A verdade é que o prazer anda de cabeça baixa, deprimido, apesar do eufórico exibicionismo em revistas de celebridades. O prazer é obrigatório no mercado. O que nos falta, então? Falta o pecado. Todos podem tudo: "Sim, eu gosto de atacar nos mictórios das rodoviárias e me orgulho de minha tara!" - diz o perverso sorrindo na TV. A permissividade total esvai a tesão. O prazer precisa da proibição. "Sem lei, não há gozo", diria Lacan se masturbando.
Aliás, o vício solitário é bem seguro. A punheta é metafísica. Ela é onisciente e gira em todas as direções, é um caleidoscópio de mulheres ou de homens. Um dos sintomas desse mundo louco é a masturbação. Não me refiro à mera "coça na miúda", nem no "estrangulamento do pele-vermelha", mas à masturbação na alma de vidas autorreferentes, ao narcisismo de seres perdidos num deserto de possibilidades sem fim. Em meio a tanta liberdade, nunca fomos tão solitários. Tínhamos pecados e proibições perfumando os prazeres, mas hoje ficou tudo referido ao sexo, para substituir frustrações políticas e sociais. A masturbação existe até no grande amor romântico, em que os dois narcisismos se tocam, se beijam, se arranham, mas não se comunicam.
Neste mundo solitário, temos o "hype" da masturbação feminina, com o vibrador, o consolador de viúvas e solteironas. O vibrador tem vida própria, sem o incômodo inconsciente, sem diálogos constrangedores. O vibrador não é um pedaço - está inteiro; o homem, o "outro", é que foi amputado dali. O consolador, o vibrador é um amante delicado sempre pronto a satisfazer sua dama. E ela pode imaginar o homem perfeito ali, entre suas mãos.
Os homens também gostariam de ter sua autonomia: serem livres e soltos como um pênis voador, comendo todo mundo com movimentos giratórios e beleza aerodinâmica.
O mercado e a tecnociência provocam mutações em nós. Não queremos amar, queremos consumir alguém. Queremos ter o ritmo das coisas e, na progressiva digitalização do sexo, os corpos tendem a ser o campo de provas da eficiência dos mecanismos de prazer.
Queremos o prazer das máquinas. E, cada vez mais, somos isso. Somos movidos por seus desejos que nos contaminam, somos movidos pela secreta vontade de existir, pois, assim como as bombas desejam explodir, os robôs também querem amar. E já somos suas cobaias inconscientes.
Mas aí, dirá o leitor mais reflexivo, mais estoico, menos epicurista, mas sábio e, talvez, mais velho: "Sim, mas e a contemplação calma da natureza, os lagos dourados, as flores e as crianças correndo, e as auroras, os céus estrelados? E a arte? Isso não é prazer?".
Sim, sim, mas, por trás dessa calma contemplação de auroras e belezas, florestas e oceanos, há um ensaio para o fim, há o preparo para o maior prazer de todos, há a saudade oculta de algo que está além da vida, ou antes dela. Entre flores e lagos dourados contemplamos nosso fim. É uma saudade não sabemos de quê...
É um prazer além do prazer (Freud), é o prazer da matéria. A matéria quer paz. Nós somos um transtorno para a matéria que quer voltar a seu silêncio. A vida e o prazer enchem o saco da matéria que é obrigada a nos suportar. A matéria olha nossos arroubos de vida e espera pacientemente que acabe a valentia para voltarmos ao prado, à grama, à terra, ao sossego da tumba.
Mais além do princípio do prazer, está a invencível vontade de morrer. A matéria sonha com a paz. Somos sonhados pela matéria da qual somos apenas um tremor, um despautério, uma agitação banal. A matéria nos sonha com tanta perfeição que pensamos que temos espírito.
O prazer da matéria é paciente. Nós não sabemos ainda, mas nosso grande prazer será sentido quando não estivermos presentes.
ARNALDO JABOR - O prazer deixa muito a desejar
Amigos me perguntam: você fez "A Suprema Felicidade", mas, o que é o prazer para você? Penso, penso e respondo: "Sei lá...".
Mas, como insistem, vamos tentar.
O prazer pode nos dar culpa e a culpa pode dar prazer. Os masoquistas sabem disso: todo prazer será castigado. Por isso, muitos preferem o doce sentimento de culpa, porque, se somos castigados antes, podemos ruminar sem medo o nosso vazio.
O prazer deixa muito a desejar, o prazer nos deixa insatisfeitos porque acaba logo. O problema do prazer é que ele sempre demanda mais prazer, orgias mais perversas, drogas mais alucinantes. O prazer não quer ter fim. "Ah... e a felicidade?" - perguntam-me. (Se bobear, viro conselheiro sentimental...). Bem, a felicidade seria um prazer mais duradouro, comedido. Mas a felicidade está fora de moda em tempos tão velozes.
A felicidade é analógica e o prazer digital. A felicidade ficou chata, tem de ser administrada, dosada e é feita também de dores, sofrimentos e dúvidas. O prazer não; pega, mata e come. Todos fingem ter prazer - é mais comercial. As caras das revistas ostentam uma gargalhada eterna. Prazer é voraz; quer botar o mundo para dentro, sugar, comer o mundo como um pudim, pela boca, por todos os buracos. Prazer é "cool". Felicidade é careta.
Mas, vamos nos deter no capítulo do orgasmo, este retumbante final de sinfonias. O problema do orgasmo é a memória e a esperança. É bem fácil se lembrar de um grande gozo no passado (mesmo ilusório) ou imaginar um grande uivo no futuro que ainda não chegou. Já o orgasmo no presente é assaltado por muitos estorvos: uma sirene de polícia, o medo de falhar, a campainha do vizinho.
Há-os de vários tipos: o básico, o decepcionante e o apoteótico. De cinco estrelinhas a pontinho preto.
O apoteótico é raríssimo, é uma utopia que desqualifica os básicos tremores. Conheço um sujeito que na hora H pensou num gol de placa do Ronaldinho e quase subiu aos céus (apoteose). Um outro, que tinha ejaculação precoce, gozou ao apertar o botão do elevador da casa da mulher que tanto ambicionava. Fora isso, temos o básico, o arroz com feijão: "Pronto, meu bem, agora vamos jantar".
Mas, você só pensa em sexo, dirão vocês. É... fazer o que, se o sexo está tomando o lugar de todos os outros desejos? A verdade é que o prazer anda de cabeça baixa, deprimido, apesar do eufórico exibicionismo em revistas de celebridades. O prazer é obrigatório no mercado. O que nos falta, então? Falta o pecado. Todos podem tudo: "Sim, eu gosto de atacar nos mictórios das rodoviárias e me orgulho de minha tara!" - diz o perverso sorrindo na TV. A permissividade total esvai a tesão. O prazer precisa da proibição. "Sem lei, não há gozo", diria Lacan se masturbando.
Aliás, o vício solitário é bem seguro. A punheta é metafísica. Ela é onisciente e gira em todas as direções, é um caleidoscópio de mulheres ou de homens. Um dos sintomas desse mundo louco é a masturbação. Não me refiro à mera "coça na miúda", nem no "estrangulamento do pele-vermelha", mas à masturbação na alma de vidas autorreferentes, ao narcisismo de seres perdidos num deserto de possibilidades sem fim. Em meio a tanta liberdade, nunca fomos tão solitários. Tínhamos pecados e proibições perfumando os prazeres, mas hoje ficou tudo referido ao sexo, para substituir frustrações políticas e sociais. A masturbação existe até no grande amor romântico, em que os dois narcisismos se tocam, se beijam, se arranham, mas não se comunicam.
Neste mundo solitário, temos o "hype" da masturbação feminina, com o vibrador, o consolador de viúvas e solteironas. O vibrador tem vida própria, sem o incômodo inconsciente, sem diálogos constrangedores. O vibrador não é um pedaço - está inteiro; o homem, o "outro", é que foi amputado dali. O consolador, o vibrador é um amante delicado sempre pronto a satisfazer sua dama. E ela pode imaginar o homem perfeito ali, entre suas mãos.
Os homens também gostariam de ter sua autonomia: serem livres e soltos como um pênis voador, comendo todo mundo com movimentos giratórios e beleza aerodinâmica.
O mercado e a tecnociência provocam mutações em nós. Não queremos amar, queremos consumir alguém. Queremos ter o ritmo das coisas e, na progressiva digitalização do sexo, os corpos tendem a ser o campo de provas da eficiência dos mecanismos de prazer.
Queremos o prazer das máquinas. E, cada vez mais, somos isso. Somos movidos por seus desejos que nos contaminam, somos movidos pela secreta vontade de existir, pois, assim como as bombas desejam explodir, os robôs também querem amar. E já somos suas cobaias inconscientes.
Mas aí, dirá o leitor mais reflexivo, mais estoico, menos epicurista, mas sábio e, talvez, mais velho: "Sim, mas e a contemplação calma da natureza, os lagos dourados, as flores e as crianças correndo, e as auroras, os céus estrelados? E a arte? Isso não é prazer?".
Sim, sim, mas, por trás dessa calma contemplação de auroras e belezas, florestas e oceanos, há um ensaio para o fim, há o preparo para o maior prazer de todos, há a saudade oculta de algo que está além da vida, ou antes dela. Entre flores e lagos dourados contemplamos nosso fim. É uma saudade não sabemos de quê...
É um prazer além do prazer (Freud), é o prazer da matéria. A matéria quer paz. Nós somos um transtorno para a matéria que quer voltar a seu silêncio. A vida e o prazer enchem o saco da matéria que é obrigada a nos suportar. A matéria olha nossos arroubos de vida e espera pacientemente que acabe a valentia para voltarmos ao prado, à grama, à terra, ao sossego da tumba.
Mais além do princípio do prazer, está a invencível vontade de morrer. A matéria sonha com a paz. Somos sonhados pela matéria da qual somos apenas um tremor, um despautério, uma agitação banal. A matéria nos sonha com tanta perfeição que pensamos que temos espírito.
O prazer da matéria é paciente. Nós não sabemos ainda, mas nosso grande prazer será sentido quando não estivermos presentes.
Monday, November 22, 2010
CAFÉ FILOSÓFICO - 27/11- sábado
Café Filosófico
NARRATIVAS MUSICAIS ─ o rodopiar da história tecida no cotidiano
em Caetano e Walter Benjamim.Apresentação:
Ivone Bengochea e Ethon Fonseca
Coordenadores do PENSARE
Promovido por REDE METODISTA SUL e LIVRARIA NOVA ROMA
LIVRARIA NOVA ROMA, Gal. Câmara, 394
27 de novembro, 2010 - 15 horas
NARRATIVAS MUSICAIS ─ o rodopiar da história tecida no cotidiano
em Caetano e Walter Benjamim.Apresentação:
Ivone Bengochea e Ethon Fonseca
Coordenadores do PENSARE
Promovido por REDE METODISTA SUL e LIVRARIA NOVA ROMA
LIVRARIA NOVA ROMA, Gal. Câmara, 394
27 de novembro, 2010 - 15 horas
Monday, October 18, 2010
Thursday, September 23, 2010
Mais uma do Patativa
NÃO ESTÁ NO GESTO ESCRITO, QUAL A PESSOA FELIZ.
POIS MUITA VEZ O DITO, A VERDADE CONTRADIZ
Patativa de Assaré
POIS MUITA VEZ O DITO, A VERDADE CONTRADIZ
Patativa de Assaré
Friday, September 17, 2010
A ESTÉTICA DO CANGAÇO
Monday, September 13, 2010
Sunday, September 05, 2010
Saturday, August 14, 2010
Sunday, July 18, 2010
Domingo Chuvoso
A NATUREZA TEM AS SUAS MANIAS, UMA DELAS É CHOVER NO DOMINGO. OS HUMANOS ESPREITAM A CHUVA SAUDOSOS DOS DOMINGOS ENSOLARADOS.
Sunday, July 04, 2010
TRISTES TRÓPICOS
'E os buritis - mar, mar.' João Guimarães Rosa
MARIA RITA KEHL - O Estado de S.Paulo, 26/jun/2010
O deputado Aldo Rabelo é um patriota. Anos atrás, criou um projeto de lei contra o uso público de palavras estrangeiras no País. Não me lembro se a lei não foi aprovada ou não pegou. Somos surpreendidos agora por nova investida patriótica do representante do PC do B: substituir o verde-folha do nosso pendão por um tom mais chique, o verde-dólar. Nada contra a evolução cromática do símbolo pátrio. Mas não se esperava tamanho revisionismo da parte de um velho comunista: o projeto de revisão do código florestal proposto por Rabelo é escandaloso.
Ou não: se o PC do B ainda tem alguma coisa a ver com a China, nada mais compreensível do que a tentativa de submeter o Brasil à mesma voracidade do país que hoje alia o pior de uma ditadura comunista com o pior do capitalismo predatório: devastação da natureza, salários miseráveis, repressão política.
E nós com isso? Nós, que não somos chineses - por que haveremos de nos sujeitar aos ditames da concentração de renda no campo que querem nos impingir como se fossem a condição inexorável do desenvolvimento econômico? Não sou economista, mas aprendo alguma coisa com gente do ramo. Sigo o argumento de uma autoridade quase incontestável no Brasil, o ex-ministro do governo FHC e hoje social democrata assumido, Luis Carlos Bresser Pereira. A concentração de terras e a produtividade do agronegócio, boas para enriquecer algumas poucas famílias, não são necessárias para o aumento da riqueza ou para sua distribuição no campo. Nem para alimentar os brasileiros. A agricultura familiar - pasmem: emprega mais, paga melhor e produz mais alimentos para o consumo interno do que o agronegócio. Verdade que não rende dólares, nem aos donos do negócio nem aos lobistas do Congresso. Mas alimenta a sociedade.
Vale então perguntar quantos brasileiros precisam perder seus empregos no campo, ser expulsos de seus sítios para viver em regiões já desertificadas e improdutivas, quantas gerações de filhos de ex-agricultores precisam crescer nas favelas, perto do crime, para produzir um novo rico que viaja de jatinho e manda a família anualmente pra Miami? Quanto nos custa o novo agromilionário sem visão do País, sem consciência social, sem outra concepção da política senão alimentar lobbies no Congresso e tentar extinguir a luta dos sem-terra pela reforma agrária?
Meu bisavô Belisário Pena foi um patriota de verdade. Um médico sanitarista que viajou em lombo de burro pelo interior do País para pesquisar e erradicar as principais doenças endêmicas do Brasil no início do século 20. O relato da expedição empreendida por ele e Arthur Neiva pelo norte da Bahia, Pernambuco, sul do Piauí e Goiás, em 1912, virou um livro que eu ganhei do professor Antonio Candido. A pesquisa começa pela descrição do clima, ou seja, da seca, e segue a descrever a "diminuição das águas" no interior. Reproduzo a grafia da época: "Não há duvida de que a água diminue sempre no Brazil Central; o morador das marjens dos grandes rios não percebe o fenômeno, mas o depoimento dos habitantes das proximidades dos pequenos cursos e de coleções d"agua pouco volumosas é unânime em confirmar este fato. De Petrolina até a vila de Paranaguá, não se encontra um único curso perene. O Piauhy, encontramo-lo cortado (com o curso interrompido) ; o Curimatá, completamente sêco; para citar os maiores (...) Acresce que, em toda a zona, o homem procura apressar por todos os meios a formação do deserto, pela destruição criminosa e estúpida da vejetação".
Os professores Jean Paul Metzger e Thomas Lewinsohn, no Aliás de domingo passado, acusam a falta de embasamento científico do projeto de Aldo Rabelo. Mas mesmo sem o aval de cientistas sérios, já é de conhecimento geral o que meu bisavô constatou em 1912: a evidente relação entre o desmatamento, a diminuição das águas e a desertificação do interior do País.
O novo código de "reflorestamento" propõe reduzir de 30 para 7,5 metros a extensão obrigatória das matas ciliares nas propriedades rurais. Uma faixa vegetal mais estreita do que uma rua estreita não dá conta de impedir o assoreamento dos rios que ainda não secaram, nem barrar a devastação pelas cheias como a que hoje vitima tantos moradores da Zona da Mata. Quem nunca observou, sobrevoando o Brasil central, que os rios que não têm mais vegetação nas margens estão secos? Outra piada é isentar as pequenas propriedades da reserva florestal obrigatória. Se até o gênio do mal que mora em mim já teve essa ideia, imaginem se ninguém mais pensou em dividir grandes fazendas em pequenos lotes "laranjas" para se valer do benefício?
Por desinformação ou má-fé, os defensores do desmatamento alardeiam que essa é uma disputa entre desenvolvimentistas e amantes do "verde". Mentira. O objeto da disputa é o tempo. O projeto de Rabelo defende os que querem agarrar tudo o que puderem, já. No futuro, ora: seus netos irão estudar e viver no exterior. Do outro lado, os que se preocupam com as gerações que vão continuar vivendo no Brasil quando todo o interior do País for igual às regiões mais secas do Nordeste atual - algumas das quais já foram ricas, verdes e férteis, antes de ser desmatadas pela agricultura predatória. Que pelo menos contava, no início do século 20, com o beneplácito da ignorância.
MARIA RITA KEHL - O Estado de S.Paulo, 26/jun/2010
O deputado Aldo Rabelo é um patriota. Anos atrás, criou um projeto de lei contra o uso público de palavras estrangeiras no País. Não me lembro se a lei não foi aprovada ou não pegou. Somos surpreendidos agora por nova investida patriótica do representante do PC do B: substituir o verde-folha do nosso pendão por um tom mais chique, o verde-dólar. Nada contra a evolução cromática do símbolo pátrio. Mas não se esperava tamanho revisionismo da parte de um velho comunista: o projeto de revisão do código florestal proposto por Rabelo é escandaloso.
Ou não: se o PC do B ainda tem alguma coisa a ver com a China, nada mais compreensível do que a tentativa de submeter o Brasil à mesma voracidade do país que hoje alia o pior de uma ditadura comunista com o pior do capitalismo predatório: devastação da natureza, salários miseráveis, repressão política.
E nós com isso? Nós, que não somos chineses - por que haveremos de nos sujeitar aos ditames da concentração de renda no campo que querem nos impingir como se fossem a condição inexorável do desenvolvimento econômico? Não sou economista, mas aprendo alguma coisa com gente do ramo. Sigo o argumento de uma autoridade quase incontestável no Brasil, o ex-ministro do governo FHC e hoje social democrata assumido, Luis Carlos Bresser Pereira. A concentração de terras e a produtividade do agronegócio, boas para enriquecer algumas poucas famílias, não são necessárias para o aumento da riqueza ou para sua distribuição no campo. Nem para alimentar os brasileiros. A agricultura familiar - pasmem: emprega mais, paga melhor e produz mais alimentos para o consumo interno do que o agronegócio. Verdade que não rende dólares, nem aos donos do negócio nem aos lobistas do Congresso. Mas alimenta a sociedade.
Vale então perguntar quantos brasileiros precisam perder seus empregos no campo, ser expulsos de seus sítios para viver em regiões já desertificadas e improdutivas, quantas gerações de filhos de ex-agricultores precisam crescer nas favelas, perto do crime, para produzir um novo rico que viaja de jatinho e manda a família anualmente pra Miami? Quanto nos custa o novo agromilionário sem visão do País, sem consciência social, sem outra concepção da política senão alimentar lobbies no Congresso e tentar extinguir a luta dos sem-terra pela reforma agrária?
Meu bisavô Belisário Pena foi um patriota de verdade. Um médico sanitarista que viajou em lombo de burro pelo interior do País para pesquisar e erradicar as principais doenças endêmicas do Brasil no início do século 20. O relato da expedição empreendida por ele e Arthur Neiva pelo norte da Bahia, Pernambuco, sul do Piauí e Goiás, em 1912, virou um livro que eu ganhei do professor Antonio Candido. A pesquisa começa pela descrição do clima, ou seja, da seca, e segue a descrever a "diminuição das águas" no interior. Reproduzo a grafia da época: "Não há duvida de que a água diminue sempre no Brazil Central; o morador das marjens dos grandes rios não percebe o fenômeno, mas o depoimento dos habitantes das proximidades dos pequenos cursos e de coleções d"agua pouco volumosas é unânime em confirmar este fato. De Petrolina até a vila de Paranaguá, não se encontra um único curso perene. O Piauhy, encontramo-lo cortado (com o curso interrompido) ; o Curimatá, completamente sêco; para citar os maiores (...) Acresce que, em toda a zona, o homem procura apressar por todos os meios a formação do deserto, pela destruição criminosa e estúpida da vejetação".
Os professores Jean Paul Metzger e Thomas Lewinsohn, no Aliás de domingo passado, acusam a falta de embasamento científico do projeto de Aldo Rabelo. Mas mesmo sem o aval de cientistas sérios, já é de conhecimento geral o que meu bisavô constatou em 1912: a evidente relação entre o desmatamento, a diminuição das águas e a desertificação do interior do País.
O novo código de "reflorestamento" propõe reduzir de 30 para 7,5 metros a extensão obrigatória das matas ciliares nas propriedades rurais. Uma faixa vegetal mais estreita do que uma rua estreita não dá conta de impedir o assoreamento dos rios que ainda não secaram, nem barrar a devastação pelas cheias como a que hoje vitima tantos moradores da Zona da Mata. Quem nunca observou, sobrevoando o Brasil central, que os rios que não têm mais vegetação nas margens estão secos? Outra piada é isentar as pequenas propriedades da reserva florestal obrigatória. Se até o gênio do mal que mora em mim já teve essa ideia, imaginem se ninguém mais pensou em dividir grandes fazendas em pequenos lotes "laranjas" para se valer do benefício?
Por desinformação ou má-fé, os defensores do desmatamento alardeiam que essa é uma disputa entre desenvolvimentistas e amantes do "verde". Mentira. O objeto da disputa é o tempo. O projeto de Rabelo defende os que querem agarrar tudo o que puderem, já. No futuro, ora: seus netos irão estudar e viver no exterior. Do outro lado, os que se preocupam com as gerações que vão continuar vivendo no Brasil quando todo o interior do País for igual às regiões mais secas do Nordeste atual - algumas das quais já foram ricas, verdes e férteis, antes de ser desmatadas pela agricultura predatória. Que pelo menos contava, no início do século 20, com o beneplácito da ignorância.
Tuesday, June 22, 2010
Sunday, June 20, 2010
ECCE HOMO
Friday, May 28, 2010
Thursday, May 13, 2010
Sunday, April 25, 2010
O CONTRÁRIO NÃO É O OPOSTO
O CONTRÁRIO É O CONVERGENTE
DOS DIVERGENTES,
A MAIS BELA HARMONIA
HERÁCLITO
DOS DIVERGENTES,
A MAIS BELA HARMONIA
HERÁCLITO
Saturday, April 03, 2010
Wednesday, March 31, 2010
Não deixem morrer meu rio
31.03.10 - BRASIL
Dom Erwin: ‘Belo Monte será uma agressão sem precedentes para o Brasil'
Letra
A- A+
Tatiana Félix *
Adital -
A polêmica sobre a instalação de uma usina hidrelétrica no Rio Xingu, localizado no estado do Pará, há décadas divide opiniões. O governo defende que a obra é necessária para garantir o abastecimento de energia elétrica para o país nos próximos anos. Porém, os impactos ambientais podem trazer muito mais danos do que benefícios, afetando não só o ecossistema, mas, principalmente, as famílias da região.
Embora seja uma das maiores obras de infraestrutura previstas para a atualidade, Belo Monte é um dos projetos que enfrenta maior resistência. Diversas entidades do Brasil e do Mundo, se posicionam contra a obra devido aos impactos ambientais e sociais que deve gerar. As conseqüências podem ser bem mais prejudiciais do que os "benefícios" econômicos da obra.
A sede de Belo Monte será em Altamira (PA), cidade com quase cem mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros quatro municípios como Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu também devem ser ocupados pela hidrelétrica.
Após concessão da licença ambiental emitida em fevereiro pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), os povos indígenas, ribeirinhas, entidades e a população local, sentiram a ameaça da construção mais próxima e ficaram preocupados. O leilão da usina já está marcado para o dia 20 de abril.
De acordo com Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu e Presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), "o programa de instalação da usina ignora as pessoas humanas que serão afetadas em seus lares". "Se for construída essa hidrelétrica (Belo Monte), será uma agressão sem precedentes para o Brasil e para a Amazônia".
Segundo ele, até agora o projeto só foi apresentado de modo unilateral. "Não aconteceram audiências públicas suficientes, propusemos 27 e só foram feitas quatro. Os povos atingidos e os índios não foram ouvidos suficientemente", informou. Ele disse ainda que o povo que será afetado não foi ouvido, nem teve acesso às audiências por causa da distância dos locais onde realizadas.
Mesmo acreditando que o projeto seja levado adiante, Dom Erwin disse que "ainda não entregamos os pontos. Estamos lutando com toda esperança até o fim". "Nós somos contra por razões de ordem social e ambiental", justificou. Ele declarou ainda que "não pode admitir que o Governo Brasileiro possa servir ao poder econômico e passar por cima das pessoas, dos povos da região".
Dom Erwin fez um apelo à sociedade brasileira dizendo que é necessário que todos se unam e se posicionem, já que se trata de um projeto destruidor, que vai causar muitos danos às famílias e à região.
"Não se pode fazer esse projeto sem ouvir os índios, isso seria inconstitucional", afirmou. Ele ressaltou ainda que o projeto não leva em conta a situação do povo de Altamira que será atingida maciçamente. "1/3 da cidade irá para o fundo. O povo será atingido pela inundação, será arrancado de seus lares e até agora ninguém respondeu: O que vai ser desse povo?".
A Usina
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte é uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais marcas do Governo Lula.
Caso seja construída, Belo Monte deve ser a segunda maior hidrelétrica do país, atrás apenas de Itaipu, localizada no Rio Paraná, na fronteira do Brasil com o Paraguai. A Hidrelétrica deve gerar 11 mil megawatts de potência.
* Jornalista da Adital
Labels:
agressão sem precedentes,
Belo Monte
Sunday, March 28, 2010
a arte e o espelho
Por vezes à noite há um rosto
Que nos olha do fundo de um espelho
E a arte deve ser como esse espelho
Que nos mostra o nosso próprio rosto
Friday, March 26, 2010
Octavio Paz
Árvore adentro
Cresceu em minha fronte uma árvore.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos suas ramas,
Sua confusa folhagem pensamentos.
Teus olhares a acendem
e seus frutos de sombras
são laranjas de sangue,
são granadas de luz.
Amanhece
na noite do corpo.
Ali dentro, em minha fronte,
a árvore fala.
Aproxima-te. Ouves?
Sunday, March 14, 2010
A VALENTIA DAS AMAZONAS
As narrativas sobre as Amazonas, mulheres que andavam a cavalo e eram hábeis ao manipular o arco e a flecha, remontam à Grécia Antiga. De acordo com a tradição oral, elas se recusavam a viver com homens em seus territórios e eram dotadas de coragem fazendo inveja aos mais valentes soldados.
Os índios contam que as guerreiras Amazonas enfrentaram os invasores espanhóis, entre eles Francisco Orellana. O escrivão da frota teria registrado que existia num pretenso reino das Pedras Verdes, onde mulheres corajosas e sem maridos enfrentavam os guerreiros.
Os índios as descrevem com mulheres bem altas, de tez brancas, com longas tranças dobradas no topo da cabeça, descrição que coincide pelo relato do escrivão Frei Gaspar de Carnival da frota hispânica.
Supostamente o embate entre os espanhóis e as Amazonas foi marcado pela ferocidade, na foz do rio Nhamundá, na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará. Atacados pelas bravas mulheres, os hispânicos foram surpreendidos e derrotados sairam em retirada.
Se existiram ou não, o imaginário de mulheres corajosas persistem nos corações e na mentes dos povos.
D
Thursday, January 07, 2010
Subscribe to:
Posts (Atom)