Nunca consegui uma explicação plausível para aquela viagem de fim de semana prolongado.Eu, que me vangloriava de ser diferente das demais pessoas curtindo o feriadão, numa corrida frenética para a praia.
Mas, a verdade é que eu me sentia o tipo “Maria vai com as outras”. A casa até que era aprazível, o problema estava dentro de mim pois não achava graça em nada. Então, sai para curtir o sol na esperança de aquecer minha alma inquieta. Caminhei vagarosamente pelas mesmas trilhas, tal como uma peregrina que cumpre resignada os passos dos seus mártires. Visitei os lugares de sempre, cumprimentei as mesmas pessoas e constatei o óbvio: não há nada desconhecido debaixo do sol.
Escondida atrás da máscara de durona, estava ali uma mulher como as outras, uma das muitas Marias que cumprem a rotina onde quer que estejam, na praia, na cidade, no campo, com as suas dores e amores. Foi assim que as minhas tormentas internas identificaram-se com os trovões e os relâmpagos e a chuva intensa que veio logo após. Restava-me apenas esperar que a chuva amainasse para retornar para casa e retomar a rotina do feriadão chuvoso.
Como tudo passa, a chuva passou, retornei ao caminho da casa. A chuva deixou as marcas de sempre. Contornei os lamaçais e cheguei ilesa, felizmente. Ao colocar a chave na porta percebi algo diferente, para além da rotina. Havia alguém estranho dentro de casa! Pensei em recuar, chamar a polícia, pedir socorro. Ainda bem que não tomei nenhuma das providências. Estava ali o inusitado, o vinha alterar definitivamente a malfadada rotina. Não eram os larápios contumazes que rondam as casas desertas. E sim um ex-amor que havia esquecido de devolver a chave da porta da casa. Um ex-amor tão delicado a gente nunca esquece.
E, assim, até o próximo domingo a rotina tinha ido para o ralo da pia.
Observação: o enredo foi sugerido na Oficina de Conto do Jaime Cimenti.
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